A atuação dos algoritmos e o consumo de vídeos no YouTube
- Grupo Audiovisual
- 23 de nov. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 23 de nov. de 2019

Que o consumo e direcionamento dos produtos audiovisuais tem se modificado não é nenhuma novidade, mas o que tem nos chamado a atenção, é como essas produções têm se moldado após a aplicação dos algoritmos na criação dos produtos e direcionamento dos mesmos nas bases de divulgação/consumo. Como já abordado nos textos anteriores, sabemos que diversas plataformas de streaming utilizam dessa ferramenta para impulsionar, criar e divulgar os seus materiais produzidos. Com o intuito de atrair novos consumidores, e/ou fidelizar os antigos. Grande parte dessa produção é oriunda de um cruzamento de dados que implicam na formatação desses novos produtos e, quais parcelas sociais ele irá atingir.
Toda essa nova produção criou um novo método de consumo, que desencadeou um acesso mais direcionado para criações audiovisuais. Hoje os usuários conectados procuram o que eles querem assistir, diferente da era dos mass media onde o público consumia os produtos ditados pela mídia padrão. Neste novo momento do consumo de vídeos, essa parcela da sociedade que se mantém conectada, prefere esse tipo de material, por se sentir mais confortável e por acreditar que a produção seja mais séria. O consumo das plataformas analógicas foram diminuindo, e dentro das plataformas digitais, o produto audiovisual tem ganhado destaque, quando o assunto é se informar. Com a utilização das ferramentas de absorção de dados dos algoritmos, a relevância de determinados assuntos passaram a dominar a rede, gerando um novo interesse por assuntos mais abertos que tenham menos “viés ideológico”. A junção entre usuários mais ligados às tecnologias e o interesse das redes sociais, permitiram o surgimento de um grande problema.
O YouTube que atualmente é uma das maiores redes sociais do mundo, e só no Brasil possui em média 82 milhões de usuários, segundo levantamento feito em 2018. É uma rede dedicada ao compartilhamento de materiais audiovisuais, que passou a utilizar uma curadoria para impulsionar seus vídeos, mudando a forma com que a aba sobre conteúdos, “em alta” fosse disponibilizada para os usuários conectados. Essa nova aplicação algorítmica mudou a forma de consumo da população, que passou a ter acesso a materiais que antes não tinham tanta visibilidade. Muitos usuários passaram a consumir conteúdos cuja a abordagem era enviesada sensivelmente, na maioria das vezes, com um teor mais conservador como aponta pesquisa que utilizou o YouTube como campo de estudo, para identificar os pontos de disseminação de ideias conservadoras nas eleições do Brasil em 2018.
Essa nova aplicabilidade da curadoria na plataforma pode ser bem observada na última eleição para presidente do país.
No Brasil, eleitores indecisos começaram a utilizar a plataforma como agregadora de conhecimento político, gerando um total descontrole informacional e uma quebra nas bases de conhecimento já existentes. Como um dos principais exemplos desses geradores de “conhecimento”, é possível citar o sucesso do então Deputado Federal Kim Kataguiri, que além de ser ex YouTuber e fundador do MBL (Movimento Brasil Livre) foi responsável por criar diversos vídeos com falsas informações sobre as ações políticas do governo de esquerda, e divulgar em seu canal no YouTube. A divulgação desses vídeos em junção com a curadoria aplicada pelo YouTube, fez com que o conteúdo fosse amplamente divulgado.
Foi assim que se iniciaram os debates mentirosos sobre a Lei Rouanet, após amplo espaço ocupado na plataforma por um vídeo feito pelo Kim sobre inverdades a respeito da lei.
Toda essa produção e consumo desenfreado causou um grande crescimento na parcela da sociedade que agora se intitula como de direita, mas antes não se reconhecia como tal. Tudo isso, em grande parte, por causa do direcionamento dos vídeos na plataforma que através da curadoria emplacou conteúdos com falsas informações e/ou manipuladas de forma a perpetuar um discurso conivente com a base ideológica favorecida pela curadoria. Para SAAD, professora titular da USP e coordenadora do grupo de pesquisa COM+, essa curadoria seria uma abundância informativa e uma disseminação de múltiplas narrativas sobre os acontecimentos do mundo, criadas a partir de distintas fontes, e apresentadas em formatos para todos os gostos.
Semelhante ao caso da Cambridge Analytic, o YouTube permitiu através do impulsionamento de conteúdos que usuários fossem influenciados por conta do direcionamento que ocorreu na plataforma. Impulsionamento este que poderia ser feito tanto pelo algoritmo quanto por bots. Para que este destaque fosse possível, o YouTube utilizou uma curadoria de dados para se certificar quanto a “qualidade” das produções. Toda curadoria disposta aos materiais criados por Youtubers permitiram uma ampla divulgação dos seus conteúdos, sejam eles bons ou não. Ainda de acordo com SAAD, ao gerar um ideário simplificado para o público em geral, corre-se o risco de promover uma fixação errônea de termos – ou, ainda, como conseqüência disso, temos o perigo de oferecer um baixo aproveitamento do potencial que tal conceito adaptado à cena digital poderia assumir.
É perceptível toda ação desastrosa causada pelo emplacamento desses conteúdos nas plataformas de consumo e o impacto gerado nos usuários conectados. Seria esse o
caminho correto para a divulgação das informações feitas pelo algoritmo curador e pelo cruzamento de dados?
Referências bibliográficas:
Saad, E. O Algoritmo Curador – O papel do comunicador num cenário de curadoria algorítmica de informação, COMPOS, 2012.
Reis, R., Zanetti D. e Frizzera, L. - ALGORITMOS E DESINFORMAÇÃO: O papel do YouTube no cenário político brasileiro. VIII COMPOLÍTICA, UnB, 2019
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