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Sob medida: Como o audiovisual tem criado narrativas cada vez mais sedutoras ao público

  • Foto do escritor: Grupo Audiovisual
    Grupo Audiovisual
  • 13 de nov. de 2019
  • 4 min de leitura

Despertar seu interesse em ir ao cinema, seja para assistir a um clássico ou a um blockbuster, envolve uma etapa quase obrigatória de trabalho destinada a pesquisa de público e a divulgação. A reação popular é normalmente decisiva para o sucesso ou o fracasso de um filme e por tanto, para o retorno financeiro trazido por ele - fator importante levando em conta o custo de produção dos grandes filmes.


Ao longo do tempo, as relações entre a produção audiovisual e seu público tem ficado cada vez mais segmentada e próxima do consumidor final. No campo do audiovisual, se antes o público ficava restrito ao que as emissoras entendiam que devia ser reproduzido, em um processo comunicacional que partia de cima para baixo, hoje ele conta com um vasto catálogo de produções que pode ser acessado a qualquer momento.


Melhor do que isso, mais recentemente, o catálogo das mais diversas plataformas de streaming pode conter obras as quais tenham sido produzidas com base nas preferências do próprio telespectador. Apostando em uma análise diferenciada nas informações de seu banco de dados a Netflix tem construído seu diferencial dentre outros produtores de conteúdo. O resultado foi um processo de produção onde a equipe da Netflix pudesse começar o processo de realização do filme se certificando do sucesso de suas obras antes mesmo de medir a recepção do uso, através da ciência dos algoritmos de relevância pública e da experiência dos diretores, roteiristas e profissionais de marketing em analisar um banco de dados gerados por seus usuários durante a interação com o catálogo já existente.


Pela definição dada por Silvia Dalben e Amanda Jurno em seu texto Questões e Apontamentos para o estudo de Algoritmos, os algoritmos de relevância pública “são rotinas de programação utilizadas para selecionar o que é mais relevante para determinada situação, trazendo ao encontro do usuário um conteúdo considerado do seu interesse”. Dentro da Netflix, esse tipo de utilização dos algoritmos foi primeiramente visto no sistema de recomendações de filmes e séries presentes no catálogo da plataforma. O uso dessa ferramenta, estava sendo desenvolvida desde os anos 2000 pela empresa, como é explicitado por Geane Alzamora, Tiago Salgado e Emmanuelle Miranda em sua tese de doutorado: Estranhar os Algoritmos - Stranger Things e o público de Netflix.


Entretanto, foi apenas em 2013 que a plataforma resolveu adotar seu uso de forma mais inovadora. De acordo com diretoria da empresa e com base nos estudos da tese de doutorado citada anteriormente, a Netflix passou a usar seus bancos de dados para cruzar informações que poderiam (e foram) utilizados na escalação de direção e elenco. A materialização desse estudo veio com lançamento da série House of Cards, adaptação do livro e da série homônima - inicialmente produzida pela BBC. Através da leitura de dados da própria plataforma, a empresa percebeu (dentre outras informações) que parte do público que acompanhava a série original era o mesmo público que assistia filmes protagonizados por Kevin Spacey e a partir desses dados, elaborou uma produção de sucesso milionário que se estendeu por seis temporadas.


O cruzamento refinado de preferências, somado a estratégia de lançamento da Netflix lhe permite produzir filmes e séries cada vez mais assertivos. Ao lançar todos os episódios em uma série em uma só vez, a companhia pode monitorar melhor quando um telespectador passa a maratonar a série, em quais pontos pausa, retorna… Com dados tão detalhados torna-se mais fácil encantar o público ao definir pontos que o atrai, ou afasta e introduzir os pontos de acerto em produções futuras. Após a validação do uso de algoritmos em House of Cards, a Netflix produz em 2016 um grande fruto de seu uso, a série Stranger Things.

Sucesso desde o seu lançamento e, segundo sua produtora, batendo os recordes de audiência da plataforma em seu quarto ano, Stranger Things é especulada como um marco do uso de algoritmos. Apesar do enredo incrível, é inegável que muitos fãs se apaixonam pelas inúmeras referências aos anos 80 presentes ao longo dos episódios, que vão de easter eggs escondidos nas cenas, até a escalação do elenco adulto que conta com grandes nomes da época. Entretanto, apesar de todo o apoio fornecido pelos rastros digitais dos usuários do streaming, todos dados compilados ainda não são capazes de construir uma história, no final de todo processo, toda equipe responsável pela construção desse universo ainda carrega seu mérito perante a grande produção desta e de outras películas. Afinal, algoritmos são códigos não criativos, cujo funcionamento depende principalmente da visão de mundo dos seus programadores e do banco de dados disponível.


Não é apenas a facilidade de ter centenas de títulos disponíveis a qualquer momento para o usuário que vem revolucionando a experiência audiovisual, mas todo o uso de dados que vem impactando em serviços de indicação e produção dos conteúdos. Ao fazer uso dessas informações a Netflix abre portas para cada vez mais participação do público na construção do que irá consumir, enquanto grandes estúdios ainda dirigem seus esforços de maneira mais expressiva no sentido de conquistar o público, a Netflix tem tentado seguir o caminho inverso: formar produções através do banco de dados gerados por sua plateia.



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Imagem de reprodução da Netflix

 
 
 

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