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O Entrelaçamento Humano: A lógica das redes através do audiovisual

  • Foto do escritor: Grupo Audiovisual
    Grupo Audiovisual
  • 18 de set. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 18 de out. de 2019

Através de Flusser (1978), em nosso último post, entendemos a comunicação enquanto um elo informacional entre os seres humanos. Um artifício utilizado como facilitador dos nossos problemas bem como criador de novos conflitos. Em resumo, ao entender a comunicação dessa maneira, a colocamos no lugar de tecnologia, tal como a tecnologia é conceituada na obra Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea (LEMOS, 2002). Nessa perspectiva, seguimos nos debruçando sobre o audiovisual, relacionando essa área ao estudo das redes visto em Musso e aos paradoxos apontados na teleinformática por Weissberg.

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A ideia de rede é evocada desde muito cedo na história da humanidade. De acordo com Pierre Musso em A Filosofia da Rede, na mitologia grega já se via o uso dessa noção com Ariadne e sua atuação no labirinto do Minotauro. Desde então, os mais diversos usos foram dados a elas e ao longo do tempo continuaram a se modificar. Em determinado momento, chegando a se deturpar e se tornar vazios, muitas vezes devido a facilidade metafórica com que a ideia de rede pode ser utilizada. Através desses usos, o entendimento do que significavam “as redes” se intercruzaram e se atualizaram conforme as demandas geradas pela cultura de cada sociedade. Assim, passando de conceito a artifício e chegando a se configurar como uma tecnologia. As redes, segundo Musso, podem ser entendidas como um “uma estrutura de interconexão instável, composta de elementos em interação e cuja variabilidade obedece a alguma regra de funcionamento”.


Dessa forma, funcionando como um elemento de interação entre as mais diversas coisas - um elo informacional tal qual enxergamos a comunicação. Por conta disso, vemos também o bom funcionamento dos sistemas atrelado a capacidade de circulação proporcionada pelas redes. O corpo humano, por exemplo, funciona bem quando seu sistema circulatório e sistema nervoso conseguem fazer com que suas redes informacionais se integrem as demais sem ruídos na comunicação. Mas como entender o audiovisual nessa perspectiva?


A questão que trazemos é a de que o audiovisual se enquadra como forma de comunicação e de que é nesse sentido que forma uma rede capaz de interligar culturas por meio de signos que são paradoxalmente mais completos e mais reduzidos que outros meios de comunicação antes já utilizados. Podemos fazer uso do audiovisual como forma de representação da uma história ficcional ou documental, mas jamais seria possível transpor toda gama de informações reflexivas vistas em um livro, por exemplo. Sua produção e veiculação se dão por outros meios, o seu “tempo” - no sentido apontado por Weissberg em relação a atualização da teleinformática, é diferente e portanto, a forma como se comunica também o é.


Visto assim, o audiovisual atua como uma rede diferenciada de comunicação, com um modo de funcionamento próprio, uma fruição diferente e por tanto, com um impacto diferente em relação ao receptor. O qual nunca deve ser visto apenas como um receptáculo de informações, independentemente do meio de comunicação utilizado. Já que, também segundo Weissberg, isso tornaria o processo de atuação das tecnologias intelectuais muito raso.


O paradoxo da teleinformática apontado por Weissberg se coloca, como ele mesmo explicita na tarefa de “examinar as incidências culturais das tecnologias intelectuais.”. Essas tecnologias se apresentam como aquelas capazes de interferir no potencial cognitivo humano e um dos exemplos trazidos pelo autor são os sistemas de informação geográfica, o qual integram uma recomposição da nossa noção de território. Nesse sentido, podemos pensar na rede de informações passadas pelo audiovisual como um componente dessa natureza. Uma vez que a sua criação e popularização foram responsáveis pela mudança da compreensão humana das subjetividades que nos rodeiam. Atualmente, por exemplo, é fácil compreender a existência de uma ferramenta capaz de reproduzir a mensagem imagética e vocal de uma pessoa distante ou mesmo falecida.


Além disso, nascido na fotografia, atualizado através de uma série de outros artifícios, o audiovisual carrega em si elementos capazes de formar uma falsa noção de conexão e unidade nas culturas ao redor do mundo. Visto que enquanto todos vemos os mesmos padrões estéticos e comportamentais se repetirem nas produções de agências de marketing ou no cinema, as lógicas excludentes e/ou ideológicas por trás dessas escolhas passam despercebidas fora de uma análise mais crítica.


Assim, o audiovisual se enquadra como rede no sentido de circulação de formas de agir e pensar, algo que rememora a Indústria Cultural de Adorno e Horkheimer. Tendo suas informações orientadas por lógicas de mercado e costumes que nós perpetuamos através da cultura - esta que carrega tanto preconceitos quanto intelecções mais complexas. Como uma rede, cumpre o que é conceituado por Musso, servindo como instrumento de interconexão, seguindo uma ordem de funcionamento e atuando através de elementos de interação. Ou seja, através dos produtos realizados pelo meio - a exemplo, a fotografia ou um filme.

 
 
 

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