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Ser Humano e Ferramenta: A Comunicação como Elo Social

  • Foto do escritor: Grupo Audiovisual
    Grupo Audiovisual
  • 1 de set. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 24 de out. de 2019

O estágio de primeiridade da palavra “comunicação” remete ao ato da fala, da troca de informação, do diálogo. Para ilustrar primeira impressão sobre comunicar-se, vamos pensar sobre quem se considera conversador e interpreta o ato de falar e comunicar ao mundo suas ideias uma característica natural, intrínseca. Há também aqueles que se consideram naturalmente tímidos, e não falam muito.


Vilém Flusser (1978) diria para os dois grupos que não há nenhuma explicação natural sobre isso, e que ambos estão necessariamente imersos no processo comunicacional, que vai além da fala, e consiste no acúmulo e troca de informação, na codificação e tradução do que é captado por seus sensores. Afinal, são estes fluxos de troca, acúmulo e tradução que nos tornam humanos.


Em sua obra “O mundo codificado”, Flusser afirma que os humanos sentem uma carência muito forte quando não estão se comunicando. O medo da solidão e a incapacidade de compreender sozinho todos os estímulos recebidos nos levou, enquanto humanidade, a construir códigos inteligíveis à toda comunidade em que pertenciam, no intuito de organizar e atribuir sentido ao que a natureza expressava através de suas mídias água, fogo, ar e terra. Sendo assim, a comunicação pode ser entendida como um processo artificial para organizar a entropia da natureza a partir de códigos.


As pinturas rupestres foram o primeiro sistema de codificação registrado na história da humanidade. Datadas na Era Paleolítica, cerca de 40 mil anos a.C., as gravuras rupestres foram um marco transformador por possibilitar a preservação da memória, a troca de informação e, posteriormente, dar subsídio para uma organização humana de maior complexidade ao inscrever seus hábitos, modelos de comportamento e sobrevivência a partir de representações gráficas, imagéticas. A possibilidade de gravar o código visual inaugurou uma linguagem capaz de driblar o espaço-tempo e permitiu a criação da memória, principal elemento para a construção da cultura.


Não é claro que havia senso estético na construção dessas imagens, e dada as limitações tecnológicas para expressar graficamente, é possível concluir que a finalidade era representar e reproduzir formas de animais, elementos naturais e artefatos que atravessavam o cotidiano de humanos paleolíticos.


O códigos imagéticos ditam a “programação” do cérebro humano, que passa a reconhecer e convencionar que determinadas formas, tamanho e expressões representavam a realidade.

Imagem de domínio público. Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
Lascaux (França)

A exemplo da notoriedade e importância histórica da comunicação em seus códigos visuais, temos o complexo de cavernas em Lascaux (França), considerado pela Unesco Patrimônio Mundial. 


A tecnologia utilizada para registros imagéticos foi se adaptando aos recursos disponíveis em cada estágio da civilização humana. Desde os modos mais primitivos, como as gravuras rupestres, perpassando pela criação da linguagem escrita, até os novos modos de representações gráficas com o advento da pintura e fotografia, a humanidade tem passado por processos de desenvolvimento tecnológicos que passam a mediar a relação entre signo, código e significado. Tudo isso levou ao que hoje chamamos de audiovisual, um híbrido de linguagens que carrega aspectos de identidade, estética e cultura de determinadas sociedades. 


A contemporaneidade tem cada vez mais ressignificado o uso dos códigos visuais e audiovisuais. A fotografia como artefato de preservação da memória no espaço-tempo tem convivido com a efemeridade do post, da linha do tempo e dos stories. O audiovisual, inaugurado pelo cinema sem áudio, tem sido cada vez mais democrático em sua produção e distribuição através dos canais do YouTube e transmissões ao vivo que não mais dependem da TV. Todos esses aspectos influenciaram a recepção da informação e forma com que a comunicação é constituída.

A necessidade de expor e receber informação deve acompanhar o tempo que as mídias levam para enviá-las e recebê-las. As mídias já foram pedras, madeiras, telas, papéis, e hoje as telas são responsáveis por permitirem os fluxos entre a aldeia global, como a troca de informação por videoconferências, chamada de vídeo e interações a partir de transmissões. Este fenômeno resgata a ideia de Flusser sobre o estado de negação da solidão, e ocupa hoje o senso comum sobre a naturalidade em estar em contato (conectado) com o outro para reafirmar nossa humanidade.

O Blog surge com o interesse em debater e propor discussões que atravessem o tema do audiovisual como uma linguagem híbrida, que carrega processos históricos, sociais e culturais alimentando a arena dos discursos, através de suas escolhas narrativas e estéticas. 

 
 
 

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